Para os sócios da D. Martarello, é necessário mudar a ideia de que as joias são itens supérfluos. “Queremos fazer acessórios que tragam memórias e eternizem pessoas e momentos especiais. Sentimos que nosso trabalho tem um significado além do financeiro”, afirma Gabriela Martarello, cofundadora do e-commerce de joias. Apesar da afirmação, a empreendedora ficou receosa de que não teria mais clientes quando a pandemia foi decretada.
A estratégia foi apostar na emoção. A empresa desenvolveu uma linha de joias com imagens escolhidas pelos consumidores, como de familiares e amigos que estavam distantes. “Quando vimos as joias prontas, ficamos impressionados. Estavam maravilhosas”, afirma a empreendedora. O sucesso apareceu na internet. Antes do lançamento da coleção, a página da empresa no Instagram tinha 30 mil seguidores. Passou para 80 mil em poucos dias e hoje já são 170 mil. O faturamento da marca com sede em Atibaia, no interior de São Paulo, foi de R$ 3,5 milhões em 2021.
A vontade de trabalhar com joias partiu de Daniel Martarello, marido de Gabriela que, ainda adolescente, vendia brincos e colares na rua. Gostou tanto de trabalhar com artesanato que decidiu começar um curso em uma joalheria. Sem dinheiro para pagar pelas aulas, ele fazia faxina no estabelecimento. Ao mesmo tempo, trabalhava em uma metalúrgica, mas foi demitido em 2008. Com o dinheiro da rescisão, comprou ferramentas para fabricar joias e começar o seu negócio.
Segundo o empreendedor, um dos problemas era não ter contato com pessoas que tinham o hábito de adquirir peças de joalheira. Depois de pedir indicações a amigos, passou a ir a locais como bancos e a sede da prefeitura para receber encomendas, especialmente de alianças. Em outras ocasiões, agendava encontros em shoppings.
Gabriela entrou no negócio depois do casamento com Daniel, em 2012. Ela foi ajudar na administração, mas o casal enfrentou problemas de gestão. “Foi bem difícil. O material é muito caro, e nós não tínhamos conhecimentos de finanças. Por exemplo, vendemos uma aliança parcelada em 10 vezes e compramos o material à vista”, afirma a empreendedora. A dupla penou, mas aprendeu na marra a gerir o negócio.
Apesar de precisarem de exposição para atingir mais clientes, os empreendedores tinham medo de divulgar nas redes sociais, por medo de se tornarem alvos de criminosos, já que trabalhavam com joias. Só depois de um ano de negócio que decidiram fazer publicações no Facebook e parcerias com influenciadores digitais.
A produção era na residência do casal — Gabriela cuidava do atendimento e Daniel fazia as joias artesanalmente. A ideia era comprar uma máquina para aumentar a escala da fabricação, mas não havia caixa para tal. Foi quando a irmã de Gabriela, Milena Nepomuceno, entrou na sociedade, em 2017.
Se antes tinham receio de se exporem, os empreendedores perceberam que as redes sociais poderiam contribuir muito com os negócios. “Começamos a mostrar os nossos rostos e os bastidores da produção. A nossa casa era humilde, então tentávamos não mostrar o piso e as falhas na parede, mas acho que as pessoas se engajaram por ver a família por trás do empreendimento”, conta Gabriela, que mostrava até a filha nas publicações. “Isso fez com que os clientes tivessem confiança de comprar com a gente.”
Outro diferencial foi apostar em um atendimento mais humanizado, conversando com cada um dos interessados. “Muitos clientes nos encontram pelo Instagram, mas nós os direcionamos para o WhatsApp, e os clientes gostam disso. Já tentamos implementar o uso de robôs, mas não deu certo. O que funciona é ter uma pessoa tirando todas as dúvidas e mandando fotos e vídeos”, afirma Daniel. A empresa oferece também joias personalizadas com nomes escritos com a caligrafia de Gabriela.
Na pandemia, com mais pessoas procurando pelos produtos, foi necessário estruturar a empresa para atender a demanda. Investiram na contratação de pessoal, compra de equipamento (de computadores a maquinário) e fizeram algumas reformas para aumentar o espaço.
No longo prazo, os empreendedores pretendem abrir lojas e quiosques em shoppings, inicialmente na cidade de São Paulo, para que os clientes possam ver os produtos pessoalmente. Depois, pretendem exportar para outros países. A previsão é fechar 2022 com receita de R$ 5 milhões.